Para lá de ter falado dos problemas físicos que enfrentou ao longo da sua carreira, Jan Vertonghen assumiu em conversa com o podcast Mid Mid ter passado por um período com problemas mentais, que se começaram a manifestar pouco depois da meia-final da Liga dos Campeões de 2018/19 diante do Ajax. Nessa partida, o defesa belga saiu lesionado após um forte choque com Toby Alderweireld e Andre Onana e desde então tudo mudou.
“Tive uma hemorragia nasal e tudo o resto. Mas lembro-me perfeitamente que não estava a 100% antes dessa partida. Muito aconteceu nessa altura. A combinação do forte impacto e não estar a sentir-me bem fez com que ficasse a sofrer por mais uns 9 meses. Estava tão abalado na segunda mão, uma semana depois…”, lembrou o defesa, que mesmo assim continuou a jogar e até disputaria a final da Liga dos Campeões diante do Liverpool. Um jogo que poderia ter sido para mais tarde recordar, mas que para o belga… era daqueles que só queria que acabasse o mais rápido possível.

“Foi sobrevivência. Passei a final toda a contar os minutos até aos 90. No caminho de volta para o hotel adormeci no autocarro. Senti-me mesmo mal nessa altura e a ligação à colisão com o Alderweireld e o Onana foi rapidamente feita. Fui visto por quase todos os especialistas e nenhuma explicação foi encontrada. Não conseguia ir a restaurantes. Tentei ir uma vez e tive de sair dez minutos depois. Não conseguia suportar multidões e adormecia em qualquer lado. Normalmente nunca durmo nas viagens e naquele período acontecia em qualquer lado. Agora percebo que era um problema mental e psicológico. Agora que vejo as fotos dessa altura, percebo imediatamente que algo estava errado. Os meus olhos estavam diferentes. Estava muitas vez em baixo”, lembrou.

O belga, agora vinculado ao Ajax, admite que tentou esconder o eventual problema mental, por temer que isso afetasse o seu futuro noutros clubes (estava em final de contrato com o Tottenham nessa altura). “Os exames mostraram que não havia qualquer problema. Estava tudo bem. Mas ao fazer exercícios na preparação aquilo não dava. Não tinha qualquer lesão e havia aquela mentalidade do ‘faz-te homem’. O meu contrato estava a terminar, se dissesse que tinha problemas mentais não sei o que podia significar para os outros clubes. Também é fácil ver que fiz jogos muito maus nesse ano. Norwich e Chelsea fora de casa, são aqueles dos quais me lembro melhor. Falhei cabeceamentos e tudo. O Mourinho, no balneário, olha para mim com aquele olhar ‘ficas aqui’ ao intervalo e eu fiquei feliz por ter sido substituído. Foi tudo muito estranho. Não percebi na altura que podia ter problemas mentais”.

Do Tottenham, em 2020, Vertonghen assinou pelo Benfica e até teve duas temporadas de bom nível, isto ainda a enfrentar estes problemas. “Fui-me convencendo que era muito mais do que aquele impacto. Mas não tinha ideia do que era. Se era pressão? Já agora, ainda tenho medo que volte a acontecer. Com certos momentos maus na vida posso ir-me abaixo rapidamente. Aconteceu nesse período e continuou durante a minha passagem no Benfica”, admitiu o defesa belga, que por outro lado assume que o período da Covid-19 acabou por ser uma ‘cura’. “É estranho dizê-lo, mas foi a minha salvação. Foi aí que dei o clique. Tenho-me sentido bem desde então, mas estou vigilante desde então. Agora só faço aquilo que gosto. É um luxo que tenho, mas ao mesmo tempo estou alerta quanto ao que esses problemas representam para as pessoas”.

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Este artigo foi originalmente publicado neste website

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