O julgamento da ‘Operação Malapata’ continuou nesta quinta-feira, com a 8.ª e última sessão de 2023 a ser marcada pelas testemunhas finais e pelo depoimento de César Boaventura, o arguido principal do caso. Após o testemunho de três empresários com ligações à FCC, empresa de Marco de Carvalho, Boaventura detalhou os negócios analisados na investigação, destacando a sua ligação com o empresário inglês Ali Barat e as dúvidas sobre as comissões de transferências a envolver jogadores do Benfica.
Segundo o seu depoimento, César Boaventura é credor do Benfica em comissões relacionadas com os negócios de Jeremy Sarmiento e Nuno Tavares, este último transferido da Luz para o Arsenal a troco de 8 milhões de euros, em 2021. Em declarações ao juiz, o empresário disse que, algum tempo após a conclusão do negócio, pediu ao diretor desportivo do emblema português, Rui Pedro Braz, a quantia devida pela intermediação, a qual este terá recusado. Nesse sentido, Rui Costa, na altura vice-presidente da direção de Luís Filipe Vieira, terá aconselhado o empresário a avançar judicialmente contra o Benfica, de forma a receber o valor em falta, algo que lhe terá garantido que iria acontecer.
No caso do extremo equatoriano Jeremy Sarmiento, César Boaventura garantiu que a única intermediação em que esteve envolvido foi na vinda daquele para o Benfica, não por agenciamento direto com o jogador, mas sim como empresário com ligações ao clube encarnado. Contudo, afirmou que todos os valores foram pagos a Daniel Wilson, seu amigo, sócio e agente de Jeremy Sarmiento em 2018.
Boaventura também explicou como um contrato de cedência de direitos de imagem de Gedson Fernandes, alegadamente assinado pelo jogador, lhe chegou às mãos. Segundo o seu depoimento, o empresário Ali Barat foi o responsável por trazer o médio para os quadros de agenciamento da Epic Sports Agency, com Boaventura a receber a promessa de que seria ele o agente do agora atleta do Besiktas, caso intermediasse uma transferência do Benfica para outro clube. Também foi Barat, de acordo com o empresário português, a enviar, via WhatsApp, um documento de direitos de imagem assinado pelo jogador, de 24 anos, que Boaventura rubricou com a informação de que o documento seria verídico, vindo mais tarde a descobrir que seria afinal forjado pelo empresário inglês. Numa sessão anterior, Gedson Fernandes testemunhou que a sua assinatura tinha sido falsificada.
Em reunião no Estádio da Luz, com Luís Filipe Vieira e um representante do West Ham, Barat terá garantido ao ex-presidente das águias que ele próprio seria o agente de Gedson e Boaventura o detentor dos direitos de imagem, pelo contrato anteriormente referido.
César Boaventura referiu ainda ter saído com prejuízo de vários negócios, sublinhando que o “risco” e a “aposta” no futebol eram algo normal, tal como os valores das comissões e do investimento feito por Marco de Carvalho na FCC, como por exemplo o agenciamento de Falaye Sacko. Segundo o empresário, o maliano era agenciado por ele e, neste processo de acusação, “Germano”, sócio e cunhado de Marco de Carvalho, intermediou uma transferência do jogador para o Montpellier, de França, sem qualquer conhecimento por parte do arguido.
Assim, Boaventura garantiu que a dívida de Marco de Carvalho seria com o empresário inglês e não com ele. Adiantou, porém, que o português não conhecia diretamente Ali Barat, mas que concretizavam negócios com a intermediação dele próprio. Barat terá chegado mesmo a entregar um suposto contrato da intermediação da transferência de Serge Aurier para o Tottenham – num valor de cerca de 3,5 milhões de euros- a Marco de Carvalho, como garantia da dívida paga, já que o britânico estaria com dificuldades financeiras para entregar dinheiro diretamente.
Por fim, César Boaventura frisou ter intermediado transferências de Youssef Chermiti, Eduardo Quaresma, Emerson Royal e Sardar Azmoun, jogadores agenciados por Ali Barat e pelo empresário através da Epic Sports Agency, com uma filial em Portugal que incluía funcionários como Paulo Futre e os familiares Jorge e Artur Futre, referindo que estes recebiam um salário mensal equivalente a “cerca de três mil euros”, dinheiro contabilizado como “investimento” e que não seria utilizado para fins pessoais, justificando assim os depósitos feitos por Marco de Carvalho.
As alegações finais do julgamento estão agendadas para o dia 25 de janeiro de 2024.
Este artigo foi originalmente publicado neste website