Já teve certamente oportunidade de ler no Record a primeira parte da entrevista ao lutador Octávio Pudivitr, que aos 36 anos está a dar passos seguros no universo do boxe, preparando-se para lutar pelo título de campeão mundial da UBO (Universal Boxing Organization), no combate de sexta-feira com colombiano Juan Boada.

E no ringue de Matosinhos vai estar um homem que conhece no nosso país como poucos, uma vez que foi a pátria que o acolheu ainda miúdo, quando rumou de Moçambique com 11 anos em busca de uma vida melhor e mais oportunidades.

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De origens muito humildes, filho de mãe moçambicana e pai checo, Octávio escapou a uma vida de miséria no bairro de Chamanculo e voltou a sorrir em Portugal. Mas comecemos pelo dado mais curioso desta equação. como é crescer com uma mãe de Moçambique e um pai da República Checa? Resposta pronta…

“É teres em casa os extremos. A minha mãe muito calorosa, com a cultura africana de festa e convívio. do outro lado tinha o meu pai, da República Checa, mais frio e pausado, menos expressivos e menos caloroso. Depois também se foi adaptando a essa forma de estar das suas origens. Foi sempre muito gratificante e ajudou-me a conhecer o melhor e o pior dos dois mundos. E isso ajudou-me muito a amadurecer como homem, para equilibrar e entender o que é bom e o que é mau. Esse choque de culturas até me deixa saudades e agradeço publicamente aos meus pais por tudo o que me deram e fizeram por mim.”

Octávio é um ‘leão’ que não esconde amor ao Sporting

E, nessa altura, deram-lhe carta verde para se deslocar para Portugal com o irmão. E os sonhos eram mais do que muitos…

“Quando saio de Moçambique já venho como sportinguista. Tinha um tio que nos obrigava a ser do Sporting, senão ninguém via televisão naquela altura. Ele obrigava todos a dizer que eram do Sporting para ver os jogos que passavam na RTP. Começou tudo por obrigação. Um bichinho de sportinguismo que havia na família toda… E eu tinha muita vontade de ser um grande jogador. Ao chegar a Portugal percebi que não era assim tão fácil. Até porque não tinha assim muitas aptidões. Era um médio defensivo, um homem mais combativo. Adorava o Gattuso, o Zidane e o Nedved. No Sporting os jogadore que me enchiam os olhos eram Vidigal e Beto Acosta. Mas o meu sportinguismo e amor pelo clube já me acompanham de muito longe”, registou.

E já que se fala do clube de Alvalade, nada como saber quem ganhava um combate – Octávio… ou Gyökeres: “Sou muito apaixonado pelo Sporting. É o clube do meu coração e apoio-o incondicionalmente. Um combate com ele seria difícil, porque estamos a falar de um tanque… um panzer em plena batalha… Mas acho que teria vantagem. Em campo ele destruia-me, mas no ringue levava a melhor sobre ele.”

A aventura no futebol não correu de feição, mas no Jiu Jitsu tudo foi diferente. Teve sucesso e na altura em que alguns podem perder o foco, tal a forma como a fama pode ‘bater’, Octávio preferiu a serenidade de continuar a melhorar: “Vinha do Jiu Jitsu e tinha um background e mindset de competição. O que sempre regeu a minha vida desportiva foi a minha resiliência e não me acomodar a tudo o que ia alcançando. Contudo, isso não me permitia colocar-me num patamar de estrela. Nunca foi esse o objetivo, mas sim ver onde consigo chegar, quais são os meus limites e quebrá-los. Fui sempre tão focado nisso que nem sequer pensava noutras coisas que me desviassem do foco. O foco principal são as minhas origens, de onde venho e para onde quero ir. O meu foco é motivar as pessoas e motivar-me a mim a superar-me diariamente. É a minha maior batalha. E nas rede ssociais, onde temos mais influência, acabamos por poder influenciar positivamente as pessoas, sejam elas mais novas ou mais velhas.”

Octávio guarda com carinho a passagem pelo Jiu Jitsu

Nesta longa entrevista já se falou de família, das nacionalidades dos pais e do sentido de respeito pelos que nos trouxeram ao mundo. Falta falar dos oito filhos que, obviamente, são a sua principal razão de viver. Resposta emocionada…

“Quando as coisas se começaram a tornar mais sérias, ficou tudo mais complicado. Era difícil conciliar os treinos com o tempo que queria estar com eles. Estou muito feliz com a educação que eles têm tido, que não depedende apenas de mim, mas tenho conseguido conciliar as coisas. Não da forma como queria mas tenho conseguido fazer tudo. O que tenho mais orgulho são eles, que são os meus maiores fãs. Eles vão às minhas lutas e estou em cima do ringue a ouvir o apoio dos meus filhos, até os gritos deles… Isso deixa-me motivado e mostra que o meu esforço serve para no futuro terem orgulho do pai e eu poder dar condições a todos eles”, assinalou.

E como se vê Octávio dentro de cinco anos? Uma viagem ao futuro de sorriso largo: “Graças a Deus almejo sempre coisas grandes para o futuro e na carreira nao é exceção. Comecei no boxe muito tarde e tenho a certeza de que vou conquistar coisas grandes e chegar a patamares superiores. Sei a dificuldade que é chegar lá mas sei da força de vontade que tenho. Em 5 anos espero chegar longe, ser pioneiro para Portugla na modalidade e levar o mais alto possivel o nome de Portugal e de Mocambique. Tenho aa certeza de que vêm ai coisas muito boas.”

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Este artigo foi originalmente publicado neste website

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