Nascido a 3 de agosto de 1971, João Oliveira Pinto chegou ao Sporting com 9 anos, em 1980. Foi o seu primeiro clube e a ligação haveria de manter-se até 1992, já como sénior, um ano depois de se sagrar campeão do Mundo de sub-20, em Lisboa.
Desaparecido esta quinta-feira, as 52 anos, vítima de leucemia, João Oliveira Pinto mantinha fortes laços afetivos com o Sporting, fruto da marcante passagem pela formação e do facto de o seu pai ter sido funcionário dos leões, porteiro na mítica Porta 10A.

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Foram estas e outras memórias que o antigo jogador desfiou em entrevista à revista digital da claque Torcida Verde – ‘Sporting 1906 dos Adeptos’ – publicada a 1 de outubro passado. O próprio João Oliveira Pinto cedeu as fotografias que ilustram o trabalho que reproduzimos abaixo, entre elas uma com o seu pai, justamente na Porta 10ª, e outra com Rui Costa, hoje presidente do Benfica, num dérbi de juniores.

Com um agradecimento especial à Torcida Verde, reproduzimos abaixo a entrevista em memória de João Oliveira Pinto:

João Oliveira Pinto é um exemplo do contributo do futebol de formação do Sporting Clube de Portugal, para o futebol português.

Chegou ao clube de Alvalade ainda criança, com 9 anos de idade. Manteve-se durante 10 épocas seguidas nos vários escalões da formação verde e branca. Nesse período, realizou centenas de jogos de leão ao peito, sagrando-se campeão nacional de juvenis em 1986/87, numa equipa onde tinha como companheiros Paulo Torres, Bilro Paulo Pilar, entre outros.

A cumprimentar Rui Costa

Como internacional realizou 61 jogos nas diversas equipas de formação da Seleção Nacional, marcando 12 golos em 3.961 minutos. Nessa condição, sagrou-se vice-campeão europeu em Sub-16, Sub-18 e Sub-21.

Em 1991 deu o seu contributo para a conquista do histórico Campeonato do Mundo de Sub-20, realizado em Portugal.

Por tudo isto entrou por direito próprio para o restrito grupo de futebolistas que ficou para a história do futebol português como ‘A Geração de Ouro’.

– Como começou a tua ligação ao futebol e posteriormente ao Sporting?

JOÃO OLIVEIRA PINTO – Sempre gostei de futebol e desde criança acompanhava o meu avô que era roupeiro da seleção de iniciados de Lisboa, na altura treinada por César Nascimento. O míster César Nascimento viu-me brincar com a bola e disse ao meu avô para me levar aos treinos de captação no Sporting CP, o que aconteceu. Foi dessa forma que fiquei no Sporting.


– Como foi a tua integração nas primeiras equipas de formação do futebol juvenil do Sporting?

JOP – Cheguei com apenas 9 anos. Éramos uns miúdos cheios de sonhos. A integração foi fácil. Nessas idades é fácil fazer amigos.

 – Nesses tempos, as limitações nas condições de treino que existiam em Alvalade nunca foram impeditivas de formar futebolistas de excelência. Pertences a uma geração onde pontificavam, entre outros, Paulo Torres, Paulo Pilar, Luís Figo, Emílio Peixe, Bilro, Canoa…

JOP – Ui, as condições daquela altura… Treinávamos num único pelado. Éramos vários escalões, alguns treinavam ao mesmo tempo, partilhando o mesmo campo. Mesmo com aquelas condições, o futebol de formação do Sporting potenciou grandes jogadores. Não sou saudosista mas acredito que, com as condições de hoje, seria possível potenciar mais jovens. Quem sabe se o dobro ou o triplo…

– Como foram os teus primeiros títulos no futebol juvenil do Sporting?

JOP – Fui campeão nacional de juvenis com um senhor que se tornou numa referência do futebol juvenil do Sporting, Aurélio Pereira. Nessa final vitoriosa, defrontámos o FC Porto, onde jogavam o Pedro Barbosa e o Folha, entre outros. Vencemos por 2-0 e foi uma grande festa. São momentos que ficam sempre dentro de nós.

– Ao nível da Seleção Nacional, és dos futebolistas com mais internacionalizações. Conquistaste internacionalizações em todos os escalões do futebol de formação…

JOP  – Sim, fui a três fases finais de Campeonatos da Europa e ao Mundial de Sub-20. Éramos como uma família, comandada por Carlos Queiroz. Um homem que estava muito à frente do seu tempo.

– Nesses três Campeonatos da Europa em que participaste, Portugal foi sempre finalista, ficando com o sentimento agridoce de ser vice-campeão…

JOP – É verdade. Perdemos essas três finais mas depois vencemos a melhor, que foi o Mundial de Sub-20 em Portugal!

 
– Como foi a conquista do Campeonato Mundial de Sub-20 em Portugal?

JOP – Esse foi o título mais importante que conquistei. Foi o coroar de um trabalho de 5 anos. Éramos uma família, tínhamos uma grande equipa. Só de lembrar o Estádio da Luz com o Brasil até arrepia!
 

– A tua integração no futebol profissional do Sporting foi afetada por uma grave lesão, numa altura em que se perspetivava a tua afirmação…

JOP – Na época 1991/92 estive no plantel principal do Sporting mas infelizmente nunca tive uma oportunidade. Ainda hoje uma das grandes mágoas que tenho foi nunca ter jogado um minuto na equipa principal do Sporting.

– Jogaste durante quase uma década na primeira Liga, sendo dos futebolistas de maior relevância. Como foi esse percurso?

JOP – Foi bom. Joguei em grandes clubes, de que me orgulho muito.

– Qual importância que dás ao futebol de formação no Sporting?

JOP – É uma referência a nível mundial. Será muito importante continuar a aposta nas camadas jovens, até porque tem sempre retorno!

 
– Continuaste ligado ao futebol, abraçando um importante desafio no Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol. Como enquadras a ação do Sindicato no futebol atual?

JOP – É com muito gosto que continuo ligado ao futebol. O Sindicato tem desenvolvido um trabalho notável no apoio aos jogadores, proporcionando-lhes condições de treino, promovendo cursos de formação e, em muitos casos, oferecendo-lhes importantes apoios financeiros. Quero destacar o grande trabalho do Dr. Evangelista.

 
– Na Torcida Verde convivemos muito de perto com o teu pai, o Sr. João Pinto, que era funcionário do Sporting. Quem com ele conviveu no seu tempo de jovem diz que era um super-jogador…

JOP – O meu pai foi durante muitos anos porteiro na mítica Porta 10 A. Depois passou para a Nave de Alvalade. Vou fazer uma confidência: o meu pai era sócio do Benfica mas com os anos de trabalho e pelo convívio no Sporting morreu como um fervoroso sportinguista. Quanto aos seus dotes como futebolista, de facto dizem que era um grande jogador…

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Este artigo foi originalmente publicado neste website

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