Sérgio Conceição faz, esta sexta-feira, a antevisão ao jogo entre o FC Porto e o Casa Pia, agendado para amanhã, sábado, pelas 20h30, no Estádio do Dragão. Veja tudo o que o treinador dos dragões disse antes do encontro da Liga Betclic.
Que desafio espera no jogo com o Casa Pia, que recentemente trocou de treinador?

“Esperamos o Casa Pia dentro daquilo que tem sido esta época, uma equipa com poucos golos sofridos, que no seu processo defensivo sabe o que faz, montando um sistema de cinco defesas. Setor intermédio composto por quatro jogadores e um avançado na frente, poderoso. É verdade que o Pedro Moreira privilegiava outros sistemas no Torreense, mas agora pegou no Casa Pia e deu continuidade. Dentro do que têm feito, esperamos um jogo difícil e temos de o ganhar”.

A sessão bidiária de treino tem a ver com o desagrado relativamente ao que se passou contra o Estoril? É uma mensagem para os jogadores? Vem aí um ciclo fundamental de jogos.

“Aquilo que é feito dentro desses tais microciclos tem a ver exatamente com os jogos. Jogámos na Amoreira na quarta-feira, chegámos ao Dragão na quinta-feira, e hoje é sexta. Amanhã jogamos. Temos pouco tempo de trabalho e pouco tempo para dissecar o que foi feito no último jogo e para preparar este. Todos os minutos e horas são importantes. Se faço sessões bidiárias ou tridiárias, tem a ver com o que acho que é melhor para preparar o jogo com o Casa Pia”.

Leu-se a palavra ‘castigo’ [referência à manchete de Record]. Tem a ver com o facto do FC Porto ter perdido?

“Não quer saber o porquê do FC Porto ter perdido? Isso é que é interessante. O castigo e a sessão bidiária… Estou um bocado saturado disto. Falem de futebol. Falam só do castigo, da sessão bidiária, do pestanejar, de gesticular. Estou um bocadinho farto. Tem a ver com o pouco tempo de preparação que temos e vai servir para dissecar o outro jogo que tivemos”.

Derrotas com o Estoril aconteceram depois das vitórias mais expressivas para o campeonato. Que leitura isto lhe merece?

“São jogos diferentes. Temos que juntar aquilo que fizemos de bom, e não tem a ver com esses jogos com o Estoril. Temos de olhar para aí e ver o que fizemos de bom e de menos bom, juntando o que fizemos em casa no processo ofensivo, porque criámos muitas situações para chegar ao intervalo com o jogo resolvido. Temos de ver em que momentos defensivos não fomos competentes, e vamos preparar o próximo jogo contra o Estoril. Tenho a convicção plena que vamos perceber o que temos de fazer para ganhar de forma tranquila ao Estoril, e desculpem que diga isto. Se pegarmos na nossa qualidade individual, que o Estoril também tem, temos tudo para ganhar o jogo. Isto foi analisado, o trabalho foi feito, e daqui a umas semanas jogaremos com o Estoril, e vocês verão a resposta que temos de dar nesse jogo. Amanhã é o Casa Pia. É perceber o que a equipa está a fazer e a não fazer nesses momentos de jogo que falamos sempre, e depois perceber que o estado de espírito e a mentalidade têm de estar sempre presentes. Depois começam a falar de mim, a dizer que estou a atacar os jogadores. Estou-me a atacar a mim. Ter contrato com o FC Porto não basta. É preciso jogar à FC Porto e é preciso essa mentalidade. O que é ter uma mentalidade competitiva? É exatamente ter uma determinação grande no jogo, superfocados nas tarefas ao serviço do coletivo. Isso é ser um jogador à FC Porto. E para todos os outros que compõem os diferentes departamentos, e vocês vão pegar nisso outra vez, incluindo a equipa técnica e o treinador, não basta ter contrato. É preciso sentir o clube”.

Campeonato regressa e FC Porto gosta de ter bola, pressionar muito o adversário, mas este ano tem melhor registo fora do que no Dragão. Merece alguma análise? Conta com Alan Varela e João Mário?

“João Mário está fora, Varela treinou hoje condicionado. É uma pergunta interessante. Se olharmos para aquilo que é a equipa, e vendo um Marcano de fora, muitas vezes o Pepe com problemas físicos com muitos minutos e que há de ter muitos mais – tem menos problemas do que alguns atletas de 20 anos -, temos uma equipa jovem. Vejam quem veio para aqui. São jogadores jovens, de clubes que, com todo o respeito, não têm peso e dimensão do FC Porto. Jogar perante o seu público numa fase inicial em que a equipa está em evolução… Evoluir a ganhar não é fácil. O Dragão tem o seu peso. É normal e natural. E com isto não digo que os adeptos não têm de assobiar quando jogamos mal, têm. Os adeptos querem sempre ganhar, é absolutamente normal. Mas incutir isso nos jogadores jovens e na sua evolução não é fácil. É uma pergunta interessante e também pensamos nisso e fazemos a nossa análise quanto a isso”.

Falta de consistência… O que falta para transferir contexto positivo dos treinos para os jogos?

“O facto de ter gente jovem… Não me quero justificar com isso, porque depois digo que temos uma equipa B competente e muitos jogadores firmados na equipa principal e entro em contradição. Isso consegue-se se os microciclos nos derem tempo para recuperar os jogadores que têm mais minutos. Colocar jogadores numa equipa mais rotinada é diferente do que meter três ou quatro e pedir-lhes que façam o mesmo do que os que têm mais minutos. Essa evolução nesse sentido por vezes é difícil. Não é que nós queiramos. A azia é muito grande como devem compreender, mas temos que olhar para isso de forma direta, sem querer camuflar nada. Assumindo, como eu assumi. E não é este ou aquele, sou eu como líder da equipa. O campeonato é o nosso objetivo principal e amanhã é mais uma batalha para ganhar”.

Que sensações teve neste primeiro terço de campeonato? Rivais…

“Da minha equipa já levantei o véu sobre várias questões. Sobre os adversários? Temos que olhar para nós. Acho que cada vez mais há competência e é difícil ganhar jogos de forma clara e evidente na nossa Liga. Pode acontecer momentaneamente, mas lembro-me que no meu primeiro ano tivemos sete, oito, nove ou dez goleadas. Hoje é difícil. As equipas técnicas têm elementos de valor e qualidade, os jogadores jovens também… Há muitos com qualidade, e ainda bem que existe Liga 3 e por aí fora. Vimos jovens com qualidade no Montalegre e no Vilar de Perdizes. Acho que cada vez mais as equipas vão perder pontos, mas acho que é importante encontrar a solidez e tropeçar o menos possível. Os quatro da frente? Tentei fugir à questão, não quero destacar quatro ou falar de outras equipas, isso não me compete. Se querem que fale do Sporting, daqui a pouco tempo falarei porque vamos jogar contra eles”.

Reforços de verão… Iván Jaime e Navarro não têm jogado muito. Ainda não estão nesse ponto?

“Iván Jaime esteve dois meses parados, não posso treiná-lo no departamento médico. Quando temos sessões de vídeo e análise do adversário eles estão presentes e isso é aprendizagem e treino também. No campo fica mais difícil. Temos cinco avançados, e dentro do que são os nossos processos é normal que jogadores com o Fran não tenham tantos minutos. Se os vamos buscar é porque achamos que têm qualidade e que nos podem ajudar”.

Tendo em conta o que tem sido feito e dito, acha que o seu trabalho nestes dois dias teve mais a ver com a componente mental? Mostrar aos jogadores que falta qualquer coisa, honrar a camisola ou o símbolo?

“Acho que eles têm noção do clube que representam. Neste último dia não se pode fazer outra coisa. Tivemos jogo [recentemente], mas grande parte do dia foi assim, foi a analisar essa postura que temos. Olhamos para o jogo, vamos ver a equipa que correu mais, que tem alta distância em sprint e eles estão todos acima da equipa adversária. Há outras situações que temos de melhorar e acho que tocou aí. Não digo que seja raça, porque eles querem, mas têm de perceber que dar tudo não chega. Ir ao limite é o mínimo”.

Ao fim de sete anos, O FC Porto já não consegue surpreender algumas equipas?

“Conseguimos em Guimarães, em Famalicão… Acho que não tem a ver com isso. Sabem em quantos sistemas já joguei durante estes sete anos, ou quantas vezes modifiquei a nossa forma de jogar? Talvez seja o treinador que tenha feito mais isso. Não é por aí. Mesmo num 4x4x2 clássico, posso meter os alas por dentro, transformá-lo num 4x2x4, utilizar uma linha de cinco em jogos que ninguém esperava, ganhámos a Supertaça a jogar com um losango no meio-campo… Não existe o momento em que metemos as peças ali e dizemos que é um 4x4x2. E depois, quando temos a bola? Que ocupação de espaços é que temos de fazer, como é que pressionamos, que jogadores queremos pressionar, queremos provocar o jogo direto no adversário, quais os alas que atacam espaço? E depois é isso tudo dentro do sistema que vocês falam. Dentro disso, e nessa dinâmica, criam-se as tais nuances. E isso sim, cria surpresa no adversário. Para cada jogo há situações diferentes, não vejo as coisas por aí”.

Jornal Record

Este artigo foi originalmente publicado neste website

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